Dietas e padrões alimentares

Dieta anti-inflamatória: o que a ciência realmente mostra

Por que falar em inflamação?

Talvez você já tenha ouvido aquela frase: “a inflamação é a raiz de várias doenças”. Mas o que isso quer dizer, de fato?

A inflamação é uma resposta natural do corpo para se proteger. O problema começa quando ela se mantém de forma crônica e silenciosa, mesmo sem uma infecção ou lesão evidente. Nesse cenário, ela se relaciona a doenças como diabetes tipo 2, cardiovasculares e até alguns tipos de câncer (REYNEKE et al., 2025).

E aqui entra um ponto essencial: a alimentação influencia esses processos. Mais do que nutrientes isolados, é o padrão alimentar como um todo que parece exercer efeito anti-inflamatório.

O que os estudos dizem sobre dietas e inflamação

Uma revisão de 30 revisões sistemáticas e meta-análises (REYNEKE et al., 2025) destacou dois padrões com resultados consistentes:

Dieta Mediterrânea → frutas, verduras, legumes, cereais integrais, azeite de oliva, peixes e oleaginosas.
Dietas vegetarianas → predominância de alimentos vegetais, com pouco ou nenhum consumo de carne.

Ambas se associaram à redução de marcadores de inflamação como proteína C-reativa (PCR), interleucina-6 (IL-6) e adiponectina.

Já o padrão ocidental, sendo rico em carnes processadas, açúcar e ultraprocessados, mostrou associação com aumento da inflamação.

Marcadores de inflamação são substâncias produzidas pelo organismo que ajudam a identificar quando há processos inflamatórios em atividade. A proteína C-reativa (PCR) e as interleucinas IL-6 e IL-1β costumam aumentar quando a inflamação está presente. A adiponectina tem comportamento oposto e tende a diminuir em cenários inflamatórios. Quando estudos mostram redução de PCR, IL-6 e IL-1β e aumento de adiponectina, entende-se que o corpo apresenta menor atividade inflamatória.

Ilustração simples com três elementos: uma garrafa de azeite de oliva, um peixe em um prato e uma colher, simbolizando componentes de uma alimentação com potencial anti-inflamatório.

O papel da Dieta Mediterrânea

Um dos estudos mais robustos (KOELMAN; RODRIGUES; ALEKSANDROVA, 2022) avaliou 22 ensaios clínicos randomizados sobre a dieta mediterrânea. Os resultados foram claros:

IL-6: redução de aproximadamente –1,07 pg/mL.
IL-1β: queda de –0,46 pg/mL.
Proteína C-reativa (PCR): diminuição média de –1,0 mg/L.

Esses números parecem técnicos, mas pense assim: são sinais biológicos de que o corpo está menos inflamado, reduzindo o risco de doenças no longo prazo.

Essas reduções significam que o organismo passou a produzir menos substâncias associadas à inflamação. Quando marcadores como IL-6, IL-1β e PCR diminuem, entende-se que o corpo está em um estado fisiológico mais estável, com menor atividade inflamatória. Esse tipo de mudança está relacionado a menor desgaste metabólico e a um ambiente interno mais favorável à saúde ao longo do tempo.

E as dietas vegetarianas?

Na mesma revisão, Reyneke et al. (2025) identificaram associação inversa entre dietas vegetarianas e níveis de PCR. Os resultados, no entanto, foram menos consistentes do que os da dieta mediterrânea.

Ainda assim, a mensagem é clara: quanto mais plantas no prato, maior a chance de benefícios anti-inflamatórios.

Por que isso acontece?

A ciência aponta alguns mecanismos por trás desses efeitos:

Fibras → regulam a microbiota intestinal, que influencia a inflamação.
Antioxidantes e polifenóis (frutas, azeite, verduras) → combatem radicais livres.
Gorduras insaturadas (azeite, castanhas) → ajudam a reduzir processos inflamatórios.

No lado oposto, açúcar, gordura saturada e ultraprocessados favorecem estresse oxidativo e inflamação.

Ilustração de uma garrafa de azeite de oliva ao lado de castanhas, com ramos de oliveira ao fundo, representando alimentos ricos em gorduras insaturadas.

E no dia a dia?

Não se trata de seguir uma dieta rígida, mas sim de cultivar consistência nos hábitos. Algumas trocas práticas:

Usar azeite de oliva em vez de manteiga.
Priorizar peixes no lugar de carnes processadas.
Aumentar o consumo de leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico).
Incluir oleaginosas como opção de lanche.
Variar frutas e vegetais ao longo da semana.

O que ainda não sabemos?

Apesar dos avanços, ainda há lacunas.

Os estudos variam no tempo de acompanhamento. Não existe padronização sobre como medir adesão à dieta. Nenhuma dieta pode ser considerada solução única. Ou seja: os benefícios são reais, mas a ciência segue investigando.

Considerações finais

A dieta mediterrânea e, em menor grau, padrões vegetarianos apresentam efeitos consistentes na redução de marcadores de inflamação.

Adotar um estilo baseado em plantas, azeite, peixes e alimentos minimamente processados é uma estratégia segura para promover saúde e reduzir riscos a longo prazo.

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Aviso profissional

Este conteúdo tem caráter educativo e informativo. Não substitui avaliação individualizada com nutricionista ou outro profissional de saúde habilitado.