Ansiedade e depressão

Como as redes sociais influenciam a ansiedade alimentar

Como as redes sociais influenciam a ansiedade alimentar

As redes sociais estão cheias de conteúdos como antes e depois, o que eu como em um dia e #cleaneating. À primeira vista, parecem inofensivos e até inspiradores. Mas estudos recentes mostram que podem aumentar a ansiedade alimentar, a insatisfação com o corpo e até o risco de transtornos alimentares (TAs).

Aqui, reuni achados de três artigos científicos para explicar como esses formatos afetam a forma como a gente se relaciona com a comida e com o próprio corpo.

A cultura da dieta no TikTok

O TikTok virou palco para dicas de nutrição e dietas. Só que, em uma análise de 250 vídeos dos hashtags mais populares (#diet, #whatieatinaday, #diettips, entre outros), os resultados foram preocupantes (MUNRO et al., 2024):

✸ Mais da metade dos vídeos mostrava body checking, quando alguém grava ou fotografa o próprio corpo para avaliar a aparência.
✸ 44% promoviam diretamente a perda de peso.
✸ Quase metade trazia mensagens negativas sobre imagem corporal.
✸ Muitos criadores se apresentavam como “especialistas”, mesmo sem formação.

Esses conteúdos reforçam o chamado ideal magro, associando saúde e valor pessoal a um corpo enxuto. O problema é que isso normaliza práticas arriscadas, como dietas restritivas e comparações constantes.

Gráfico mostrando que 44% dos vídeos de dieta no TikTok falavam de perda de peso, 18,8% exibiam body checking e 49,4% reforçavam imagem corporal negativa. Fonte: Munro et al., 2024.

“O que eu como em um dia”: inspiração ou pressão?

Vídeos do tipo what I eat in a day são populares porque mostram a rotina alimentar completa de alguém. Só que esse formato costuma gerar comparações irreais.

Um estudo experimental com 403 mulheres (DAVEY et al., 2024) mostrou que, após assistir a esse tipo de conteúdo, havia maior probabilidade de surgirem comportamentos alimentares desordenados, como restrições exageradas ou preocupação excessiva com calorias.

O risco foi 2,5 vezes maior em comparação ao grupo controle. E o impacto foi mais intenso entre mulheres jovens (18 a 21 anos).

Ou seja: ao ver alguém exibindo refeições “perfeitas”, muita gente sente que deveria comer igual, mesmo que aquilo não seja adequado para sua realidade.

O fascínio (e o risco) do #cleaneating

A proposta do clean eating é evitar alimentos processados e dar preferência aos “naturais”. Parece uma boa ideia, mas quando levada ao extremo pode se transformar em obsessão.

Pesquisadores chamam isso de ortorexia nervosa: uma fixação por comer apenas “alimentos puros”. O resultado pode ser culpa, exclusão de grupos alimentares importantes e até deficiências nutricionais (DAVEY et al., 2024).

No estudo, quem foi exposto a conteúdos de #cleaneating apresentou quase 3 vezes mais risco de sinais de transtornos alimentares em comparação ao grupo que viu conteúdos neutros.

Além disso, esse tipo de mensagem carrega uma armadilha: passa a ideia de que quem não segue esse padrão está “comendo errado”. E transformar escolhas alimentares em julgamentos de caráter nunca é saudável.

Infográfico em formato de balança mostrando pontos positivos do movimento clean eating (mais vegetais, menos ultraprocessados, maior atenção ao que se come) e riscos do extremo (ansiedade alimentar, exclusão de grupos alimentares, ortorexia). Fonte: Davey et al., 2024.

Redes sociais e a distorção da imagem corporal

Não é só sobre comida. A forma como a gente enxerga o próprio corpo também sofre impacto.

Uma terceira pesquisa com mais de 600 universitários (ZAHARIA; GONȚA, 2024) mostrou que a pressão estética das redes aumenta a internalização do “ideal magro” e a distorção da autoimagem.

Isso pode gerar:

✸ Baixa autoestima.
✸ Uso frequente de dietas restritivas.
✸ Comer emocional, como tentativa de compensação.

A comparação constante nas redes não leva, necessariamente, a hábitos mais saudáveis. Pelo contrário, pode criar um ciclo de frustração, quanto mais a pessoa se compara, mais acredita que precisa mudar, mesmo que já esteja saudável.

Como consumir conteúdo sem cair na armadilha

As redes sociais podem, sim, ser ótimas ferramentas para aprender sobre nutrição e saúde. Mas precisamos desenvolver um olhar crítico. Algumas ideias que ajudam:

Cheque as credenciais: nem todo perfil que fala de nutrição tem formação na área.
Valorize a diversidade alimentar: não existe “dia de comida perfeita” que defina sua saúde.
Pratique autocompaixão: não se compare com corpos ou rotinas que não refletem a sua realidade.
Confie em fontes sérias: OMS, Ministério da Saúde, sociedades científicas.
Busque equilíbrio, não perfeição: comer bem também inclui flexibilidade.

Considerações finais

Conteúdos como antes/depois, o que eu como em um dia e #cleaneating parecem motivadores, mas na prática podem reforçar padrões irreais, aumentar a ansiedade alimentar e incentivar comportamentos de risco.

Consumir redes sociais de forma crítica é um passo essencial para proteger a saúde mental e a relação com a comida.

💚 Se esse tema fez sentido pra você, compartilhe com alguém que também se preocupa com nutrição e bem-estar.

Aviso profissional

Este conteúdo tem caráter educativo e informativo. Não substitui avaliação individualizada com nutricionista ou outro profissional de saúde habilitado.